O êxodo silencioso, a fuga dos cristãos iraquianos de sua terra
10 de Setembro de 2024
O êxodo dos cristãos iraquianos, mais uma vez, ganha destaque, com milhares de famílias deixando sua terra natal em busca de segurança e esperança em terras distantes. Muitos partem rumo a países vizinhos como uma etapa temporária antes de seguir para destinos mais distantes, como a Austrália. Esse movimento de migração, que se intensificou recentemente, reflete uma dura realidade que vai além da simples busca por oportunidades de emprego.
Para muitos, a atual onda migratória teve início no final do ano passado, após um devastador incêndio em Bakhdida, no norte do Iraque. Porém, a crise se espalhou, atingindo até mesmo a relativamente segura região do Curdistão, afetando cristãos que antes encontravam ali um refúgio. Os motivos que impulsionam essa saída em massa são diversos e complexos. Não se trata apenas de uma busca por uma vida melhor, mas da necessidade urgente de escapar de condições de vida insustentáveis. Problemas como salários atrasados, falta de energia, escassez de água e a crise econômica do país estão entre os principais fatores que forçam os cristãos a buscar cidadania e um futuro mais promissor em outro lugar.
A ativista Basma Azuz, em entrevista à ACI Mena, explicou que a migração reflete um dilema profundo entre a identidade e a busca por segurança. Para muitos, deixar o país não é simplesmente uma fuga, mas uma tentativa legítima de garantir um futuro mais seguro para suas famílias. "Esse fenômeno é um direito humano consagrado", afirmou Azuz, referindo-se ao direito de buscar melhores condições de vida quando a pátria já não oferece segurança ou direitos básicos.
Ela destacou ainda que os fatores por trás desse êxodo vão além da economia e da segurança, envolvendo também temores de perseguição religiosa e a frustração com a instabilidade política. A visita do Papa Francisco ao Iraque em 2021 trouxe um sopro de esperança temporária aos cristãos, mas o fracasso do governo em cumprir suas promessas renovou o desejo de partir, especialmente entre os jovens que anseiam por uma vida com mais oportunidades e dignidade.
O ativista civil Dilan Adamat, fundador da ONG Return, acrescentou que, embora compreensível, essa migração traz consigo novos desafios. "Os cristãos iraquianos enfrentarão grandes dificuldades em seus destinos, especialmente ao tentar se adaptar a novas culturas e ambientes sociais," disse ele. Apesar dos esforços para garantir educação e saúde em outros países, a adaptação cultural e social será uma jornada árdua.
O impacto dessa migração é devastador para a presença cristã no Iraque. Estatísticas da fundação Shlama, dedicada à preservação dos assuntos cristãos, revelam que, nas últimas duas décadas, o Iraque perdeu quase 90% de sua população cristã. Cidades inteiras, incluindo aquelas na região do Curdistão, já sentem o efeito desse esvaziamento, que ameaça extinguir a rica herança cristã que durante séculos floresceu naquela terra.
Este novo capítulo no êxodo dos cristãos iraquianos é mais do que um simples movimento migratório — é um grito silencioso de uma comunidade que luta para sobreviver e preservar sua fé e cultura em meio ao caos. A busca por segurança, dignidade e direitos humanos básicos continua a impulsionar essa diáspora, que desafia os limites de sua própria identidade e história.
Com informações de ACI Digital
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