O anúncio do Evangelho deve ser com alegria
21 de Maio de 2025
As comunidades eclesiais do mundo inteiro, o Povo de Deus – cristãos leigos e leigas, vida consagrada, diáconos, padres e bispos – , em suma, a Igreja ou todos nós, discípulos missionários de Jesus, estamos empenhados em estudar e colocar em prática as conclusões da 15ª Assembleia Sinodal Ordinária, com o tema: “Para uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”. E para melhor compreender a missão da Igreja, ou a nossa própria missão, podemos retornar alguns anos no tempo.
Dez anos após a conclusão do Concílio Vaticano II, o papa da época, São Paulo VI, publicou a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi – “O Anúncio do Evangelho”. Era 08 de dezembro de 1975. E foi escrita logo após a 3ª Assembleia Sinodal Ordinária, cujo tema era justamente sobre a “Evangelização no mundo moderno” (1974).
A primeira Exortação Apostólica do papa Francisco, Evangelii Gaudium – “A Alegria do Evangelho” – foi divulgada pouco mais de oito meses após ele ter sido eleito papa. Quem não se lembra do “Habemus Papam” escutado no dia 13 de março de 2013? A Evangelii Gaudium é de 24 de novembro daquele ano. Francisco a escreveu também como uma Exortação após a 13ª Assembleia Sinodal, realizada em 2012, ainda com o papa Bento XVI, e com o tema: “A Nova Evangelização para a transmissão da Fé Cristã”.
“O empenho em anunciar o Evangelho às pessoas do nosso tempo, animadas pela esperança, mas, ao mesmo tempo, torturadas muitas vezes pelo medo e pela angústia, é, sem dúvida alguma, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade”, escreveu São Paulo VI, em 1975. No parágrafo 17 da Exortação, quando define o que seja evangelizar, é apresentada a necessária visão de conjunto de todos os elementos da evangelização para se evitar uma definição parcial e fragmentária. Tais elementos essenciais, afirma o papa, foram tratados no Sínodo do ano anterior (1974), em concordância com o Concílio Vaticano II.
A Evangelii Gaudium de Francisco, 2013, cita a Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, 1975, em 15 ocasiões. E também por 15 vezes o texto de Francisco cita o “Documento de Aparecida”, 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, evento realizado em 2007, onde o então arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Bergoglio, atuou como presidente da comissão de redação.
Fica evidente a grande ligação entre estes documentos. De fato, o conceito de “discípulo missionário” nasceu ali naquela Conferência. E ganhou grande destaque na Evangelii Gaudium, no “coração” do documento, ou em seu eixo central, sobre o Anúncio do Evangelho (cf. EG 110-175). Vejamos o parágrafo 120:
“Em virtude do Batismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28,19). Cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização […]. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização […]. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos mais que somos «discípulos» e «missionários», mas sempre que somos «discípulos missionários». Se não estivermos convencidos disto, olhemos para os primeiros discípulos, que logo depois de terem conhecido o olhar de Jesus, saíram proclamando cheios de alegria: «Encontramos o Messias» (Jo 1,41). A Samaritana, logo que terminou o seu diálogo com Jesus, tornou-se missionária, e muitos samaritanos acreditaram em Jesus «devido às palavras da mulher» (Jo 4,39). Também São Paulo, depois do seu encontro com Jesus Cristo, «começou imediatamente a proclamar que Jesus era o Filho de Deus» (cf. At 9,20). Porque esperamos nós?” (grifo nosso).
Uma nova evangelização exige um novo protagonismo de cada um de nós! E o papa Francisco foi nos mostrando e ensinando isso durante os 12 anos de ministério. Um verdadeiro processo! O Documento Conclusivo da 16ª Assembleia Sinodal, realizada em duas sessões – 2023 e 2024 – , com etapas prévias de participação das várias comunidades do mundo inteiro, retoma o eixo central da evangelização: “O caminho sinodal da Igreja nos levou a redescobrir que a variedade das vocações, dos carismas e dos ministérios tem uma raiz: ‘todos nós (…) fomos batizados num só Espírito, para formarmos um só corpo’ (1Cor 12,13)” (16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Documento Final, n. 21). Não haverá Exortação Apostólica Pós Sinodal, como nas outras vezes, deixou claro o papa Francisco na nota de acompanhamento ao Documento Final: “Também eu o aprovei e, assinando-o, ordenei a sua publicação, juntando-me ao ‘nós’ da Assembleia”.
E na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 Francisco retoma, sutilmente, o tema da alegria na ação evangelizadora: “Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir” (Spes Non Confundit, Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025, n. 9).
O anúncio do Evangelho, com alegria, permanece sendo um dos grandes desafios atuais: como animar outros batizados, discípulos missionários, à comunhão e participação, a ser peregrino de esperança? Certamente assumindo nossa vocação de servir, na gratuidade, como nos ensinou Jesus, com o gesto da última ceia: “Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,17); e como nos ensinou, mais recentemente, o papa Francisco, com seus inúmeros gestos e diversos documentos. Um legado que jamais esqueceremos e que o novo papa, Leão XIV, já deu mostras de que também não esquecerá!
Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)
Fonte: Cnbb
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